A BORBOLETA

 

Como todos os garotos travessos, eu tinha a mania de meter-me em complicações. 

Depois, para sair delas, saia correndo para pedir o auxílio de mamãe. 

Ela, porém, sem irritar-se e nem repreender-me, sempre encontrava um meio de deixar que eu me desembaraçasse sozinho. 

Para mim, aquilo significava que ela estava se recusando a auxiliar-me. Eu me revoltava em silêncio, sem poder compreender. 

Em uma manhã, às vésperas da primavera, ela gritou o meu nome no jardim. Fui ver o que era. Mostrou-me um casulo castanho, firmemente preso a um ramo de cipreste. 

- Veja, disse-me interessada. A borboleta já está se agitando ali dentro. 

De fato, o pequenino cartuxo parecia até pular e aquilo me deixou impaciente. 

Eu tinha um canivete no bolso, tirei-o, abri-o e, sem consultar mamãe, disse-lhe: 

- Vou ajudar essa coitada de borboleta a sair daí de dentro 

Mamãe simplesmente curvou-se sobre o meu ombro, acompanhando a operação. 

Mas, para minha decepção, o que saiu lá de dentro nem era uma larva e nem era uma borboleta. Extremamente frustrado eu olhava o estranho animalzinho quando mamãe me afagou os cabelos e disse com especial tom de afeto na voz: 

- Meu filho, ainda não era o tempo certo. A lagarta estava ativamente trabalhando com uma finalidade: adquirir forças suficientes para que, como borboleta, pudesse alçar voo muito acima de um mundo onde estava acostumada a arrastar-se. 

Eu olhava penalizado, imaginando a lagarta marrom e feia, a rastejar. E a multicolorida e cintilante borboleta viajando nos raios do Sol. Minha mãe continuou: 

- Sem se preocupar epensar e compreender, você abriu o casulo com o seu canivete. O bichinho, lá dentro, não pode esperar o seu tempo e amadurecer... 

Eu estava com o fato diante de meus olhos: o pequenino ser vivente agora já não podia, nem voar, nem rastejar. 

E entendi o que mamãe queria dizer. O "bichinho" ao qual ela se referia, éramos nós, as crianças.

Se eu dependesse, indefinidamente, de alguém para resolver os meus problemas, jamais teria capacidade para me desenvolver, isto é, assumir atitudes corretas, amadurecer, deixar de rastejar como uma criança que engatinha e chegar a ter um espirito próprio e independente, capacitado aos mais altos voos. 

Nunca mais me esqueci daquele incidente. 

A luta da vida, é vencida por etapas: cada uma delas nos prepara para a luta seguinte. 

E a harmonia, a ordem perfeita da Lei que rege a Vida, garante a cada um de nós os meios para a vitória. Não se situam lá fora, estão em nosso íntimo. 

E, por isso, o auxílio melhor é aquele que vem de nós, em nosso próprio favor.