A PSICODINÂMICA DA MEDIUNIDADE
REVISTA INTERNACIONAL DE ESPIRITISMO Geremias Rodrigues Villela


Lembremo-nos de que o Homem é um Ser multidimensional e que o Espírito imortal constitui a sua dimensão essencial: o Ser que pensa, sente e age. O corpo mental, o perispírito ou psicossoma e o corpo físico constituem as suas dimensões estruturais. Completando temos as dimensões sociais, física ou corporal a extrafísica ou espiritual.

A terra como todos os planetas habitados, possui dois planos assistenciais para os seus habitantes: o plano existencial físico, habitado pelos espíritos encarnados e o plano existencial extrafísica, habitado pelos Espíritos libertos do corpo físico. Estes planos se conjugam, se entrelaçam, diferenciados apenas pelas dimensões vibratórias da matéria que os constitui.

Em face à lei do Progresso a que estão submetidos todos os Seres da Natureza, a mente humana, desde as suas primeiras manifestações de racionalidade, apresenta se com uma característica específica, o pensamento contínuo, ou onda mental inestancável, diferenciando-se do pensamento descontínuo ou onda mental fragmentária dos irracionais.

Com o pensamento contínuo, surge uma nova faculdade, inerente ao Espírito que emergiu da irracionalidade, dotando-o de um novo meio de comunicação com os seus semelhantes, nos seus dois planos existenciais, caracterizado pela relação mental que se estabelece pelo ajuste vibratório de suas ondas mentais, que se irradiam ininterruptas no espaço infinito. Surge assim no Homem a faculdade mediúnica como um novo instrumento para o seu progresso, na sua trajetória evolutiva anímica. Desde os primórdios de sua racionalidade, até o Homem atual, com todo o seu acervo de conhecimentos, nos campos e científico, filosófico e religioso, tanto quanto na continuidade de sua evolução, em busca da angelitude, a mediunidade como faculdade natural de relação mental com os seus semelhantes, nos dois planos existenciais, constitui o mais significativo instrumento.

Vemos assim a mediunidade como uma característica mental do Homem, como uma faculdade dinâmica de relação mente a mente, surgida do processo evolutivo filogenético, quando o Homem emergiu 'da irracionalidade animal, nas suas primeiras manifestações de racionalidade, dotado de pensamento contínuo, como característica fundamental da espécie humana.

A mediunidade se apresenta sob dois aspectos diferentes: a mediunidade como faculdade de relação mental, inerente a todos os Homens, e como faculdade especial que determinadas pessoas são dotadas, em face a tarefas específicas no campo de relações dos habitantes dos dois planos existenciais.

Os médiuns propriamente ditos, ou seja, as pessoas dotadas de mediunidade, como faculdade especial, dividam-se em dois grupos: médiuns missionários e médiuns de prova.

Nos primeiros encontramos um campo mental com características mento- eletromagnéticas especiais, em face à descompensação vibratória de suas mentes, em relação à humanidade a que vêm servir, pelo alto desnível evolutivo espiritual em que se encontram. Vêm ao mundo para desenvolverem grandes tarefas em favor do crescimento intelectual e moral da humanidade. Para isso seus campos mentais são ajustados por Espíritos Superiores, com quem mantém relações mentais persistentes, caracterizando os mandatos mediúnicos. Essas relações mentais se estabelecem em face à sintonia vibratória de suas mentes. Os ensinamentos superiores que veiculam se devem à capacidade de filtragem de suas mentes, pelos seus conteúdos cognitivos, possibilitando-os serem intérpretes de Entidades espirituais superiores. Estabelece-se assim a relação psicodinâmica mente a mente, nas múltiplas tarefas mediúnicas missionárias no mundo.

Nos médiuns de prova também encontramos um campo mental com características mento-eletromagnéticas especiais, em face a uma descompensação vibratória devida aos grandes abusos na aplicação de suas forças, nas suas múltiplas existências, nas quais contraíram grandes débitos. Retornam ao plano físico com suas descompensaçoes vibratórias mentais, investidos de possibilidades mediúnicas para tarefas de auxílio, de assistência, em múltiplos campos. Para isso renascem sob a custódia de Entidades espirituais amigas (guias espirituais) que supervisionarão suas atividades de interpretes dos Espíritos, em tarefas que se comprometem desenvolvê-las em harmonia com as Leis divinas, constituindo isso uma condição necessária para a manutenção da assessoria, do seu guia espiritual. É o guia espiritual que estabelece, através relação mental com o seu protegido, o relativo ajuste vibratório de sua mente para o desempenho das tarefas compromissadas. Se, por invigilância, o médium permitir que sua mente caia em posiçãointeriordeixando derealizarsuastarefas,ourealizando-asemdesarmonia com as Leis divinas, desvincula-se automaticamente, e por sua própria responsabilidade, do seu assessor espiritual, ficando entregue a si mesmo, com seu campo mentai magneticamente desajustado, associando-se por sintonia com as entidades espirituais com quem se identifica nos propósitos escusos, com todas as consequências que disso possa advir.

Nessa relação mediúnica com o seu assessor, no de desempenho de suas múltiplas tarefas, com Jesus, o médium de provas encontra o mais significativo instrumento para os ajustes vibratórios de seu campo mental.

Pelo exposto, vemos que os médiuns de prova reencarnam trazendo no corpo mental, a nível anímico, conteúdos extremamente conflitivos, que constituem fatores predisponentes anímicos para grandes desajustes psicofísicos, que dependendo dos fatores ambientais, no desenvolvimento da personalidade, poderão seus núcleos conflitivos serem aliviados ou reforçados, desenvolvendo uma personalidade com menor ou maior instabilidade psicofísica, e dessa forma favorecendo ou prejudicando os ajustes mentais, nas tarefas mediúnicas.

A personalidade dos médiuns de prova tem como característica um certo grau de instabilidade psicofísica, com predisposição neurofisiológica para inibição cortical, favorecendo os estados dissociativos mentais, com desvio do "centro de gravidade” da mente para as áreas emocionais, com predominância neurofisiológica das estruturas subcorticais.

São essas características psíquicas dos médiuns que levaram certos autores de escolas psicológicas clássicas a identificarem a mediunidade com a neurose histérica. Entretanto, a mediunidade não constitui um estado patológico da mente. "Na mediunidade de prova, evidenciamos na mente conteúdos psíquicos conflitivos, responsáveis por determinadas características de personalidade dos médiuns, e que constituem fatores predisponentes para futuros desajustes psicofísicos, se os seus portadores não se dispuserem à disciplina de suas forças, canalizando-as para as suas múltiplas tarefas, especialmente para as tarefas assistenciais espirituais, todas elas vivenciadas em harmonia com as Leis divinas, consubstanciadas no Bem, merecendo assim a supervisão e assistência de Benfeitores espirituais, encontrando seguro apoio em suas próprias atividades, para a manutenção de seu equilíbrio psicofísico e apaziguamento dos seus conflitos.