A VAIDADE

 

 

Quando minha irmã e eu tínhamos cerca de sete e nove anos respectivamente, alcançamos as notas mais altas de nossa classe, na escola. Assim, decidimos que, em matéria de "cérebros”, nossa família estava muito acima da média. E não perdemos tempo para fazer os nossos companheiros de brinquedos cientes disso

 

De certa feita, ao ouvir nossas jactâncias, papai chamou-nos. 


Ele havia enchido uma bola de assopro até o tamanho de uma cabeça humana. E, muito sério, disse-nos: 

- Este aqui é o João 


Então começou a contar-nos a história da vida do João, a qual velo a ser uma sucessão de feitos extraordinários.

 

E, cada vez que João fazia uma coisa magnífica, nosso pai soprava um pouco mais de ar dentro do balão. 

 

Como a história progredia, João ia crescendo a tais proporções, que minha irmã e eu fomos, de pouco em pouco, recuando de junto dele, pressentindo o estouro. 


De repente, bem no ponto em que João parecia não suportar mais nada, a história terminou 

- Não é muito divertido estar muito perto do João, não é verdade? Perguntou papai. Está tão cheio de si e tem uma cabeça tão grande. Isso é que é ter cérebro, vocês não acham? Mudando um pouco de assunto, por que os seus companheiros de brinquedos não têm aparecido mais? 

- Não sabemos! Foi a nossa resposta 

- Da mesma maneira que vocês se afastaram do João, os seus amigos se afastaram de vocês. Vos estavam tão orgulhosos e tinham uma cabeça tão grande que eles temeram o momento do estouro, o que seria de sobremaneira desagradável. 


E, até hoje, quando fazemos alguma coisa particularmente envaidecedora, a lembrança do João nos preserva de ficarmos com a "cabeça grande" e nos considerarmos os "cérebros"