ANIMISMO NA PRÁTICA MEDIÚNICA

  

Animismo é o nome que se dá ao fenômeno produzido pelo encarnado com suas próprias faculdades espirituais, sem o uso dos sentidos físicos, graças à expansão do seu perispírito (Ex: telepatia, clarividência, ideoplastia, bicorporeidade, etc.).

Dificilmente conseguiremos isolar completamente o animismo da mediunidade, no fenômeno mediúnico, porque: 

1. são as próprias faculdades anímicas dos médiuns que os fazem instrumento para as manifestações dos espíritos;

2. nem sempre podemos definir, com exatidão, quando o fenômeno está ou não sendo provocado ou coadjuvado por espírito. 

No meio espírita, há a preocupação de se procurar entender e avaliar até que ponto possa ter havido participação ou interferência do médium no fenômeno mediúnico observado. E costuma-se classificar esse animismo como parcial ou total.

1.    Comunicação totalmente anímica

É aquela em que o médium expressa apenas os seus próprios conteúdos mentais inconscientes. Em vez de entrar em transe mediúnico, adentra o seu próprio mundo íntimo e manifesta o que ali encontra. Não está sob influência de outro espírito. Fala e age por si mesmo, ainda que o faça de modo diferente do seu comum. E não se trata de fraude, porque não está conscientemente fingindo ou querendo enganar. 

Essa manifestação totalmente anímica poderá ocorrer:

a) como resultado de uma sugestão ou impressão sofrida pelo médium 

Em vez de produzir mediunicamente, o médium externará algum fato que o impressionou ou algum assunto que lhe agrada.

Pode fazer uma "personificação", quando assume a personalidade de alguém que admira, de quem é devoto, ou que está "na moda" (exemplo: um artista famoso recém-desencarnado).

Se achar que está sendo intérprete de espíritos elevados, talvez tente produzir, no transe, falas grandiloquentes, atitudes grandiosas.

Esse médium precisa ser corrigido e orientado fraternalmente para controlar a imaginação e as emoções, evitando o animismo.

b) como a de um espírito em sofrimento 

Tendo a mente fixada em situações aflitivas íntimas, desta ou de encarnações anteriores (situações em que ele mesmo se fixou ou entidades adversárias o fixaram), o médium, ao dar comunicação, o fará como um espírito em sofrimento.

"Nossa amiga supõe encarnar uma personalidade diferente, quando apenas exterioriza o mundo de si mesma" (...) "a manifestação decorre dos próprios sentimentos de nossa amiga, arrojados ao pretérito, de onde recolhe as impressões deprimentes de que se vê possuída, externando-as no meio em que se encontra". — André Luiz 

(Cap. 22 - Emersão do Passado, de "Nos Domínios da Mediunidade")

(Vide, também, o Cap. 23 de "Mecanismos da Mediunidade”)

Embora seja o próprio médium o espírito que sofre, nesse tipo de manifestação anímica, devemos atender com a mesma disposição de ajudar e reequilibrar que teríamos para com um desencarnado sofredor.

c) como a de um espírito superior ao médium 

Ao se desdobrar, o médium pode recuperar a posse de conhecimentos espirituais que possui e que estavam esmaecidos/limitados pela influência do corpo físico. Neste caso, suas comunicações anímicas demonstrarão as possibilidades maiores de que ele desfruta na condição de espírito livre, sabendo mais e falando melhor do que o faz normalmente.

Podemos aproveitar essa produção, se ocorrer; mas o médium deverá ser orientado e ajudado para que não se vicie nessa produção anímica, porque o objetivo da reunião é o intercâmbio mediúnico. 

Como reconhecer a produção anímica? 

Falta, nela, a "presença" de espíritos junto ao médium (já que ele está agindo por si mesmo) e haverá repetição dos estados e personalidades que apresentar durante o transe (pois o comunicante é sempre o mesmo: o espírito do médium). 

Podemos verificar se a produção é anímica:

1. fazendo a análise das comunicações obtidas pelo médium;

2. procurando fazer a percepção fluídica do médium em transe;

3. recorrendo à vidência para eventual visualização de comunicante. 

Em qualquer caso, o médium totalmente anímico deverá ser orientado e corrigido pelo dirigente, a fim de que consiga evitar o animismo e alcance trabalhar como verdadeiro médium (intermediário dos espíritos). 

Essa orientação e correção será feita de modo fraterno, através de aulas e instruções gerais sobre o assunto; quando necessário, de forma direta e pessoal, numa conversa em particular.

2.    Comunicação parcialmente anímica

É aquela em que o médium, inconscientemente, mistura parte de seus pensamentos e sentimentos com os do espírito comunicante.

Esse animismo parcial é inevitável. Em toda comunicação mediúnica sempre haverá alguma influência do médium, pois ele é o canal da mensagem e não se pode anular de todo a ação de sua mente, seu modo de ser e, até, a sua linguagem.

Mas é preciso orientar fraternalmente o médium e proporcionar clima espiritual equilibrado nas reuniões mediúnicas, para que esse animismo inevitável seja reduzido e não chegue a prejudicar nem invalidar a manifestação do espírito comunicante.

Obs: Nas primeiras manifestações através de médium iniciante, as comunicações que recebe às vezes parecem muito com o seu modo de pensar e agir usual. Pode-se tratar apenas de semelhança e afinidade que o médium tem com o espírito que o está assistindo nessa fase inicial. Se for isso, com a ampliação do trabalho do médium, outros espíritos virão se comunicar por seu intermédio e ficará evidente a plena diferenciação entre eles e o médium. Não terá sido um caso de animismo. 

Comunicação de vivos 

O espírito encarnado, quando em desdobramento, pode exercer influência sobre outra pessoa e até usá-la como médium. 

“A alma do médium pode comunicar-se como a de qualquer outro. Se goza de certo grau de liberdade, recobra suas qualidades de espírito. Tendes a prova disto nas visitas que vos fazem as almas de pessoas vivas, as quais muitas vezes se comunicam convosco pela escrita, sem que as chameis. Porque, ficai sabendo, entre os espíritos que evocais, alguns há que estão encarnados na Terra. Eles, então, vos falam como espíritos e não como homens. Por que não se havia de dar o mesmo com o médium?" (L.M., 2° parte, Cap. XIX, 2a)

Temos aí a comunicação de um espírito encarnado, um "vivo", em vez de um desencarnado. Entendemos que é um fenômeno mediúnico entre encarnados. Para Aksakof, seria, não obstante, um fenômeno anímico, por ser o agente uma alma (espírito encarnado) e não um espírito (desencarnado). 

 

Bibliografia 

Allan Kardec O Livro dos Médiuns, 2a Parte, VII - Da Bicorporeidade e da Transfiguração (119), XIX - Do Papel dos Médiuns nas Comunicações Espírita: 223, 19 a 59) O Livro dos Espíritos, Introdução, XVI, 38: Se todos os fens. promanassem do médium seriam todos idênticos. P. 372: "Há, porém, casos em que a matéria oferece tal resistência que as manifestações anímicas ficam obstadas ou desnaturadas, como nos de idiotismo e de loucura.". Cap. VIII, p. 425 a 438: sobre sonambulismo e ação da própria alma. Alexandre Aksakof: Animismo e Espiritismo - IV 

André Luiz (F.C.X.): Mecanismos da Mediunidade, Cap. XXIII; Nos Domínios da Mediunidade, Cap. 22 Demétrio Pável Bastos: "Médium. Quem é, Quem não é" - Inst. Maria, Juiz de Fora, MG -2 OHIO 101 E. Manso Vieira e B. Godoy Paiva: Manual do Dirigente de Sessões Espíritas Ernesto Bozzano: Animismo ou Espiritismo? I, I. Hermínio C. Miranda: A Diversidade dos Carismas, Vol. I - Caps. III e IV; Vol. II - Cap. I, ítens 4 e 5 , João Teixeira de Paula: Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo - Verbetes: Anímico, 

Animismo, Metapsíquica, Personificação Lamartine Palhano Júnior: A Mediunidade no Centro Espírita - GERA - Grup. Esp. "Leôncio de Albuquer que"- Niterói, RJ M.B. Tamassia: Você e a Mediunidade Martins Peralva: Estudando a Mediunidades Roque Jacintho: Desenvolvimento Mediúnico, Cap. 29 - Animismo e Comunicação

 

Perguntas 

1. Que é fenômeno anímico?

2. Como se pode reconhecer se uma produção é anímica?

3. Que fazer com o médium que manifesta animismo